quinta-feira, 16 de maio de 2013

Sobre o "acto heróico" da Angelina Jolie

Na minha opinião não considero que ela seja heroína nem pelo o que fez, nem pelo facto de o partilhar com o mundo. Ela foi inteligente, prudente e preventiva. E pôde ser isto tudo, porque tem dinheiro. O que ela fez não é novidade, mas infelizmente não está ao alcance de todos. Quantas pessoas se pudessem não fariam o mesmo? Em Portugal o serviço público de saúde só permite estudos genéticos quando existe uma grande história familiar de cancro e mesmo assim, nem todas as pessoas conhecem esta possibilidade e nem sempre os médicos disponibilizam esta informação.
Quando trabalhei na área da oncologia tive a oportunidade de conhecer um dos melhores médicos na área do cancro da mama. É aquele médico em que eu confio as minhas mamas de olhos fechados. Lembro-me de em conversa ele me dizer que todas as mulheres que sofrem de cancro de mama e retiram somente uma mama, deviam de fazer era uma dupla mastectomia radical e dependendo do tipo de cancro que fosse também uma histerectomia. Mas claro que isso era a opinião dele, porque na realidade e no nosso serviço saúde público não é sucessivamente aplicável. Segundo ele, este tipo de intervenção evitaria muitas recidivas, assim como, salvaria muitas vidas. Infelizmente vivemos numa sociedade de interesses onde imperam as indústrias farmacêuticas e claro que este tipo de intervenções não lhes são favoráveis. Será que se analisarmos os custos que se tem com mamografias, ecografias mamárias, análises, biópsias, intervenções cirúrgicas, quimioterapias, radioterapias (...) não sairia mais barato fazer estudos genéticos e depois se necessário intervir cirurgicamente? Uma coisa é certa, evitar-se-iam muitas depressões e ansiedades subjacentes ao diagnóstico de um cancro.
Por isso e voltando à Angelina ela foi prudente, porque fez o seu estudo genético e optou por salvar-se, independentemente de tudo o que teria que fazer, e foi preventiva, por partilhou e alertou muitas mulheres para a possibilidade de se poderem salvar. Ela não foi uma heroína, nem corajosa, ela apenas mostrou ter amor à vida e a todos aqueles que ama. 
Porque se formos a pensar bem, heroínas e corajosas são todas as pessoas que lutam contra um cancro e que infelizmente não tiveram possibilidade de se curarem ainda mesmo antes de estarem doentes. 
Logo esta história serve principalmente para alertar todas as pessoas com historial familiar clínico de cancro (ou não) que existe esta possibilidade e que como em tudo na vida, mais vale prevenir que remediar.

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